Vamos ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=BFmH0LycNdI
Pensar
e conhecer
Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos.
Nada é mais doloroso, mais angustiante do que um pensamento que escapa a si
mesmo, ideias que fogem, que desaparecem apenas esboçadas, já corroídas pelo
esquecimento ou precipitadas em outras, que também não dominamos. [...]
Perdemos sem cessar nossas ideias. É por isso que queremos tanto agarrar-nos a
opiniões prontas. (Gilles Deleuze e Félix Guattari)
A
citação acima se refere ao esforço constante que nos anima a conhecer. Diante
do caos que não significa vazio, mas desordem; procuramos estabelecer
diferenças, semelhanças, contiguidades, sucessão no tempo, causalidades.
Desejamos “pôr ordem no caos”, porque só assim poderemos nos situar no mundo e
sermos capazes de agir sobre ele.
É
isso, portanto, o conhecimento; esse esforço psicológico pelo qual procuramos
nos apropriar intelectualmente dos objetos. Quando falamos em conhecimento,
podemos nos referir ao ato de conhecer ou ao produto do conhecimento: o
primeiro diz respeito à relação que se estabelece entre a consciência que
conhece e o objeto a ser conhecido, enquanto o segundo é o que resulta do ato
de conhecer, ou seja, o conjunto de saberes acumulados e recebidos pela
tradição.
A
capacidade de pensar
O ser
humano é o único animal do planeta capaz de pensar sobre o mundo que o cerca. E
é claro que isso não é pouco!
Você já
pensou na importância de poder pensar? Foi a capacidade de pensar, interligada
a outros atributos específicos da nossa espécie, que nos possibilitou sermos o
que hoje somos! Em outras palavras: a evolução da espécie humana está
totalmente ligada à sua capacidade de pensar, pois foi assim que o homem criou
mecanismos de sobrevivência e adaptação ao meio no qual ele vivia, conseguindo
fazer uma coisa que nenhum outro animal foi capaz de fazer: interferir sobre a
natureza e adequá-la às suas necessidades. Perceba a importância do pensamento!
A
atividade de pensar, ou seja, a capacidade de refletir sobre as coisas que nos
cercam, é aquilo que chamamos de razão. Quem nunca ouviu a expressão: “o homem
é um animal racional”? E é aqui que entra a filosofia. Refletir sobre o sentido
da vida, os seus valores e como viver de forma feliz e correta, entre outras
coisas, é o ofício da filosofia. Veja que “filosofar” e “pensar” são duas
atividades inseparáveis. Entretanto, a prática filosófica busca conhecer e
compreender o mundo que nos cerca; isso implica um pensamento organizado e
voltado para o conhecimento. Portanto, nem sempre quando pensamos sobre alguma
coisa estamos necessariamente filosofando. Não é tão simples assim. Para
filosofar, é preciso ter interesse em conhecer.
Aliás, conhecer sempre foi mais uma
necessidade do que um desafio para o homem.
Desde o início das primeiras
civilizações humanas, somos obrigados a superar o desconhecimento por meio de
uma série de maneiras, como a observação, por exemplo. Ao observar os pássaros
bicando frutos, o homem descobria alimento sem correr o risco de morrer
envenenado. Sendo assim, podemos definir o ato de conhecer como relação que se
estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, como também
o resultado desse ato.
As formas de conhecimento
Mas
será que o conhecimento obtido pela prática filosófica é a única forma de se
conhecer as coisas? A resposta é não. Existem outras maneiras de se conhecer o
mundo que nos cerca.
Vejamos
algumas delas, além da filosófica.
O
conhecimento mitológico: foi a primeira tentativa de explicação do mundo
feita pelo homem, ainda que de uma maneira fantasiosa. Os mitos são carregados
de imaginação e crença, o que nos leva a concluir que não passam por uma
sistematização do conhecimento. A questão da crença, inclusive, aproxima o mito
da religião. O mito é uma representação coletiva, transmitida através de várias
gerações e que relata uma explicação do mundo. Trata-se de uma maneira de a
sociedade explicar os fenômenos que a cercam, assim como uma tentativa de
explicar a si próprio. A filosofia surgiu na Grécia como um esforço de superar
o conhecimento mítico.
Mito:
relato fabuloso, de caráter religioso, que diz respeito a seres que
personificam agentes naturais. O mito tende a fornecer uma resposta e uma
explicação satisfatórias. Possui igualmente uma função que assegura a coesão
social. (RUSS, J. Dicionário de filosofia. São Paulo: Scipione. 1994, p. 187.)
O
conhecimento filosófico: trata-se de um tipo de conhecimento essencialmente
teórico adquirido por quem o pratica por meio de uma exaustiva reflexão crítica
acerca da realidade, da ação humana e dos seus valores. O filósofo não se
contenta em “contar uma história” sobre as origens do mundo e do ser humano; ao
contrário, busca entender e explicar racionalmente essas origens, através da
sistematização do pensamento. Este raciocínio está ligado a um encadeamento
lógico que visa a não cair em contradições. É a razão tentando buscar a
realidade e a verdade das coisas.
O
conhecimento científico: desenvolvido a partir do conhecimento filosófico,
é uma forma de conhecimento elaborado através de métodos rigorosos de
investigação, entre eles a utilização da experiência, que busca obter leis de
explicação racional e de validade universal para os fenômenos analisados. Antes
de tudo, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão
imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso,
ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problema
obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos,
afastadas. (CHAUI, M. Filosofia. São Paulo: Ática, 2003, p. 111.)
O
conhecimento pelo senso comum: trata-se de um conhecimento
espontâneo resultante das experiências vivenciadas pelos seres humanos no
cotidiano da sua existência, isto é, no seu dia a dia. Trata-se de um conjunto
de ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo de
valores que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir. O senso comum,
porém, não é refletido e se encontra misturado a crenças e preconceitos. É um
conhecimento ingênuo (não-crítico), fragmentário (porque difuso, assistemático
e muitas vezes sujeito a incoerências) e conservador (resistente às mudanças). Por
não ser um conhecimento adquirido de maneira mais sistematizada, um dos grandes
problemas que podem ser gerados pelo senso comum é o preconceito em geral.
Com
isso não queremos desmerecer a forma de pensar do indivíduo comum, mas apenas
enfatizar que o primeiro nível de conhecimento precisa ser superado em direção
a uma abordagem crítica e coerente, características que não precisam se
restringir necessariamente às formas mais requintadas de conhecer, tais como a
ciência ou a filosofia. Em outras palavras, o senso comum precisa ser
transformado em bom senso, entendido como elaboração coerente do saber e como
explicitação das intenções conscientes dos indivíduos livres. Segundo o
filósofo Gramsci, o bom senso é "o núcleo sadio do senso comum". Qualquer
pessoa, estimulada no exercício de compreensão e crítica, torna-se capaz de
juízos sábios, porque vitais, isto é, orientados para sua humanização.
Senso comum: compreensão de mundo que é fruto de crenças e tradições, das
quais nos aproximamos por meio dos sentidos, da memória, dos hábitos, dos
desejos, da imaginação, da razão. Pelo senso comum, fazemos julgamentos,
estabelecemos projetos de vida, adquirimos convicções e confiança para agir.”
(ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3. ed. São Paulo:
Moderna, 2005, p. 144.)
O
conhecimento pela arte: toda obra de arte expressa uma visão de mundo, pois
representa a maneira pela qual seu autor percebe a realidade que o cerca, entre
outras coisas. Portanto, quando nos deparamos com uma obra de arte e buscamos
interpretá-la, estamos adquirindo um tipo de conhecimento que tem relação com
nosso interior, ou seja, com nossa subjetividade. Contudo, esse tipo de
conhecimento é tão complexo quanto o filosófico e o científico, pois requer
sensibilidade e proximidade com a história da arte.
Atividade
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